13/09/2016
O que é compulsão alimentar?

Obesidade é uma doença, isso já foi dito e repetido. Mas muito ainda precisa ser dito sobre a compulsão alimentar – que acontece quando a alimentação deixa de ser um hábito e passa a ser um vício, uma válvula de escape frequente. Pra piorar, dificilmente uma pessoa compulsiva entende seu problema e o diagnóstico acaba sendo feito quando o paciente já está obeso. 

Para tirar dúvidas sobre a compulsão por alimentos, conversamos com a psicóloga que atende os pacientes do Núcleo de Tratamento da Obesidade, Gisele Chimenti.  

Confira a entrevista completa a seguir.

 

- Muita gente não come para viver, vive para comer. Essa frase faz sentido nos dias de hoje? É uma relação perigosa?

Essa frase faz muito sentido. Quando se coloca a maior fonte de prazer da vida no ato de comer e se há prazer no hábito, ele se repete constantemente e sem limites. É uma relação perigosa, pois quando se torna um hábito negativo a pessoa deixa de buscar outras fontes de prazer em seu dia a dia. E quando se come de forma errada, pode-se gerar transtornos alimentares, como a compulsão alimentar e a obesidade.

 

- Em consultório, os pacientes costumam ter ciência dessa compulsão?

Os pacientes não costumam perceber a compulsão, pois negam seu descontrole alimentar. Isso acontece porque no momento em que se percebe algo errado no nosso comportamento, há a necessidade de enfrentar o problema e mudar.

 

- Como você mostra o problema a quem não consegue enxergá-lo? 

Realmente é a parte mais difícil. Na maioria dos casos, não se tem um desejo emocional de mudança. Mas, quando o paciente quer mudar de vida, ele está aberto a ouvir as orientações. Um ponto muito importante é aprender a distinguir fome orgânica de fome emocional. Fazer um diário alimentar também ajuda bastante na visualização dos erros.

 

- A ansiedade pode influenciar na compulsão alimentar?

A ansiedade é um fator importante, pois a maioria dos pacientes portadores de compulsão alimentar são estimulados pelo fator emocional a comer de forma exagerada. Constantemente, os pacientes comem abusivamente quando têm alteração no seu nível de ansiedade. Comem por estarem tristes, alegres, preocupados, angustiados. Nesses casos, o ideal é ter um acompanhamento psicológico, para o maior controle sobre as reações emocionais junto ao alimento.

 

- Além de uma necessidade, comer é uma ferramenta social, está presente na nossa cultura e dia a dia. Que dicas você dá para quem sofre para comer na rua?

Como faz parte de nossa vida, não podemos parar de nos alimentar. Mas necessitamos aprender a comer adequadamente. O alimento está muito ligado à vida social, principalmente. Mas, quando estamos focados em um objetivo como a restrição alimentar, podemos conciliar novos hábitos com a vida social. Para quem precisa fazer as refeições fora de casa, a melhor dica é levar a comida pronta. Se estiver sempre com os alimentos certos por perto, não há motivo para se alimentar de forma errada.

 

- Costuma-se dizer que o paciente operado renasce mas mantém a "cabeça de gordo". Que orientações você costuma dar aos pacientes do Núcleo?  

O paciente bariátrico precisa entender que a mudança fisiológica (do aparelho digestório) é feita em horas. Mas a mudança de comportamento demora bastante. A melhor orientação é seguir as instruções e restrições alimentares, para que o paciente condicione seus novos hábitos. Só assim conseguirá seguir a restrição alimentar sem sofrimento. E é muito importante o acompanhamento psicológico pós-operatório.