Obesidade é uma doença, isso já
foi dito e repetido. Mas muito ainda precisa ser dito sobre a compulsão alimentar
– que acontece quando a alimentação deixa de ser um hábito e passa a ser um
vício, uma válvula de escape frequente. Pra piorar, dificilmente uma pessoa
compulsiva entende seu problema e o diagnóstico acaba sendo feito quando o paciente já está obeso.
Para tirar dúvidas sobre a
compulsão por alimentos, conversamos com a psicóloga que atende os pacientes do
Núcleo de Tratamento da Obesidade, Gisele Chimenti.
Confira a entrevista completa a
seguir.
- Muita
gente não come para viver, vive para comer. Essa frase faz sentido nos dias de
hoje? É uma relação perigosa?
Essa frase faz muito sentido. Quando
se coloca a maior fonte de prazer da vida no ato de comer e se há prazer
no hábito, ele se repete constantemente e sem limites. É uma relação perigosa,
pois quando se torna um hábito negativo a pessoa deixa de buscar outras fontes
de prazer em seu dia a dia. E quando se come de forma errada, pode-se gerar transtornos
alimentares, como a compulsão alimentar e a obesidade.
- Em consultório, os pacientes costumam ter ciência dessa
compulsão?
Os pacientes não costumam
perceber a compulsão, pois negam seu descontrole alimentar. Isso acontece porque
no momento em que se percebe algo errado no nosso comportamento, há a
necessidade de enfrentar o problema e mudar.
- Como você mostra o problema a quem não consegue enxergá-lo?
Realmente é a parte mais
difícil. Na maioria dos casos, não se tem um desejo emocional de mudança. Mas,
quando o paciente quer mudar de vida, ele está aberto a ouvir as orientações.
Um ponto muito importante é aprender a distinguir fome orgânica de fome emocional.
Fazer um diário alimentar também ajuda bastante na visualização dos erros.
- A
ansiedade pode influenciar na compulsão alimentar?
A ansiedade é um fator
importante, pois a maioria dos pacientes portadores de compulsão alimentar são
estimulados pelo fator emocional a comer de forma exagerada. Constantemente, os
pacientes comem abusivamente quando têm alteração no seu nível de ansiedade. Comem
por estarem tristes, alegres, preocupados, angustiados. Nesses casos, o ideal é
ter um acompanhamento psicológico, para o maior controle sobre as reações
emocionais junto ao alimento.
- Além de
uma necessidade, comer é uma ferramenta social, está presente na nossa cultura
e dia a dia. Que dicas você dá para quem sofre para comer na rua?
Como faz parte de nossa vida,
não podemos parar de nos alimentar. Mas necessitamos aprender a comer
adequadamente. O alimento está muito ligado à vida social, principalmente. Mas,
quando estamos focados em um objetivo como a restrição alimentar, podemos conciliar
novos hábitos com a vida social. Para quem precisa fazer as refeições fora de
casa, a melhor dica é levar a comida pronta. Se estiver sempre com os alimentos
certos por perto, não há motivo para se alimentar de forma errada.
- Costuma-se dizer que o paciente operado renasce mas mantém
a "cabeça de gordo". Que orientações você costuma dar aos pacientes
do Núcleo?
O paciente bariátrico precisa
entender que a mudança fisiológica (do aparelho digestório) é feita em horas.
Mas a mudança de comportamento demora bastante. A melhor orientação é seguir as
instruções e restrições alimentares, para que o paciente condicione seus novos
hábitos. Só assim conseguirá seguir a restrição alimentar sem sofrimento. E é
muito importante o acompanhamento psicológico pós-operatório.